Acho que agora entendo meu pai. Tá bom…. fui pai com 18 anos e definitivamente isso não fez eu entender meu pai. Meu pai foi muito mais nerd do que eu. Eu acho!
Ele viveu no Rio de Janeiro na década de 60 e 70.
Provavelmente esteve no aterro do Flamengo na época em que era seguro passear pelos seus bosques depois das 19:00 hs. Ou então tomar uma no Belmonte na época em que se cobrava um preço justo por um chopp (pelo menos… muito menos que R$ 7,00 o copo). Ou quem sabe ele esteve no Beco das Garrafas, na época em que Elis Regina brigava com Ronaldo Bôscoli e deixava a emoção das suas músicas nos palcos de Copacabana. Ou em Ipanema na época em que Vinícius e Tom se deslumbravam com a cocota que passava por eles para ir à praia.
Quem sabe meu pai esteve na rua da Urca quando o Rei passou com o seu Calhambeque e buzinou para a cocota da minha mãe….
Ou quem sabe meu pai esteve na casa aonde Nara Leão cantava suas músicas enquanto Nelson Motta pensava em seus shows que fariam sucesso na década de 80.
Talvez meu pai passou perto (ou dentro) do fumacê do Tim Maia… ou do corpo do violão de Baden Powell! Ou quem sabe viu Gonzaguinha celebrar o encontro universitário com Ivan Lins e celebrar tudo isso na Rua Jaceguai na Tijuca…
Talvez ele estivesse no cinema beijando a linda da minha mãe quando o Rei tomou o tapa do splish splash…. vai saber!!!
Talvez meu pai tenha visto Chico Buarque cantar escondido em algum Centro Acadêmico ou quem sabe ele tenha chorado quando ouviu Canção da América de Milton.
E entendo de uma forma que talvez ele nunca entenda. Entendo meu pai hoje porque olhei dentro do meu quarto, no Rio de Janeiro, no flamengo, no ano de 2014, depois de toda Elis, de todo Bôscoli, de todo Cazuza, de todo Baden, de todo Caetano, de todo Chico, de todo Gil, de toda Bethania, de toda Gal, de todo Gonzaguinha, de toda Travessia de Milton, de toda Legião, de todo Engenheiros, de todo Titãs, de todo OZZY, de todo Sabbath, de todo metalica, de todo e Type, de todo Choppin, de todo Lenine e talvez enxerguei a mesma delicadeza que meu pai enxergou em seu violão.
Estou no Rio, em 2014, tomando chopp e cerveja sem ver Elis, ou Tim, ou Cazuza, ou Chico, ou Gal, ou Bethania, ou Ivan, ou Gonzaga e por influência dos meus pais ainda me emociono em olhar para meu violão e enxergar uma mesma paixão que fez meu pai tocar e assim namorar minha mãe e consequentemente me fazer existir.
E é por deixar o violão reger a minha vida que afirmo hoje entender meu pai!
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